segunda-feira, 27 de junho de 2011

Remédio antiaids usado em países pobres causa envelhecimento precoce.

Pesquisadores afirmam que inibidores da transcriptase reversa causam danos ao DNA da mitocôndria, levando a doenças cardíacas e demência.

Pesquisa britânica ajuda a explicar por que pessoas infectadas pelo vírus HIV e tratadas com antigos antirretrovirais podem apresentar sinais avançados de fragilidade e doenças.



Uma classe de genéricos usada no tratamento do HIV pode causar envelhecimento prematuro, levando a doenças cardíacas e demência. Em um artigo publicado na Nature Genetics, pesquisadores britânicos mostram que remédios conhecidos como inibidores da transcriptase reversa (NRTIs, em inglês), usados em larga escala principalmente no continente africano, podem causar danos ao DNA da mitocôndria dos pacientes.
A mitocôndria é uma das estruturas mais importantes das células, pois é responsável pelo processamento de oxigênio e glicose para a obtenção de energia no corpo. Muitos tecidos importantes do organismo, como os do cérebro, músculos, rins e fígado, dependem de uma boa manutenção desta ‘usina’, e pequenas alterações podem ter consequências graves.
Os cientistas afirmam que é improvável que coquetéis antiaids mais novos, produzidos pelos laboratórios Gilead, Merck, Pfizer e GlaxoSmithKline, causem danos com a mesma severidade. Acredita-se que a toxicidade destes remédios seja menor, mas novas pesquisas ainda são necessárias para confirmar isso.
“Leva tempo para que esses efeitos colaterais fiquem aparentes, então há uma interrogação sobre o futuro, para descobrir se essas novas drogas vão causar ou não este tipo de problema”, diz Patrick Chinery, do Instituto de Medicina Genética da Universidade de Newcastle, no Reino Unido. “Elas provavelmente são causam isso, mas não temos como ter certeza porque não tivemos tempo necessário para descobrir."
As descobertas ajudam a explicar por que pessoas infectadas pelo vírus HIV e tratadas com antirretrovirais antigos para a aids podem apresentar em alguns casos sinais avançados de fragilidade e doenças.
“O DNA de nossas mitocôndrias é copiado durante a nossa vida e, conforme envelhecemos, naturalmente acumula erros”, explica Chinnery, que liderou o estudo. “Acreditamos que estas drogas anti-HIV acelerem o ritmo de criação desses erros. Então, em um prazo de dez anos, o DNA de uma pessoa pode ter acumulado a mesma quantidade de erros de uma pessoa que envelheceu naturalmente por vinte ou trinta anos.”
Inibidores da Transcriptase Reversa – O mais conhecido remédio NRTI é o AZT, também chamado de zidovudine, originalmente criado pela GSK. Quando surgiu, no final da década de 1980, representou um grande avanço na luta contra a aids: aumentou a sobrevida dos pacientes, tornando crônica uma doença que antes aplicava uma sentença de morte imediata.
Ao longo dos anos, as preocupações sobre a toxicidade dos NRTIs fizeram com que países mais ricos substituíssem a classe por combinações de drogas novas e menos tóxicas. Contudo, países pobres dependem de medicamentos baratos, de forma que o AZT permaneceu sendo usado em muitas regiões do planeta.
“Estes remédios podem não ser perfeitos, mas temos que nos lembrar que, quando foram introduzidos, deram entre dez e vinte anos a mais para pessoas que poderiam, de outra forma, ter morrido”, ressalta Brendan Payne, da Newcastle´s Royal Victoria Infirmary, que também participou da pesquisa. “Na África, onde a epidemia de HIV alcançou o pior cenário e onde medicamentos mais caros não são uma opção, eles são absolutamente necessários.”
Os pesquisadores estão agora procurando novas formas de reparar ou brecar a progressão de danos causados por estas drogas. Por enquanto, a equipe acredita que a prática de exercícios – algo que parece beneficiar pacientes com problemas na mitocôndria – possa ajudar.


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